A história do zero e sua relação com as crianças

19 de fevereiro de 2021

Atualizado em: 22/12/2023

Crianças pequenas têm dificuldade em compreender o significado do zero e fazer relações entre ele e outras quantidades, segundo um estudo da Duke University. Os neurocientistas Dustin J. Merritt e Elizabeth Brannon mostraram cartões em pares para crianças de até 4 anos, pedindo que identificassem qual deles mostrava mais bolinhas. Embora entendessem as diferenças entre cartões com mais e menos bolinhas, mais da metade das crianças se confundiu quando lhes foram apresentados um cartão com apenas uma bolinha e outro com nenhuma. 

Segundo os autores, a dificuldade se deve em parte ao fato de os próprios números serem símbolos abstratos demais para crianças tão pequenas. O zero é ainda mais desafiador, porque outros números ao menos podem ser substituídos por objetos. Uma criança consegue compreender a diferença entre duas e quatro bolinhas, porque a imagem representa presença material. Isso demonstra que o senso numérico ainda está em formação aos 4 anos de idade. 

Outra parte da dificuldade poderia ser explicada pela forma como a criança aprende a contar a partir do número 1, sem supor que possa haver algo antes. Em casa, também, os pais raramente chamam atenção para a ausência de objetos que poderiam ser contados.

A história do zero

É pouco intuitivo um número que “não vale nada” e que divide os números entre positivos e negativos, e é por isso que o zero representou uma revolução tão grande na história da matemática. “O zero está na mente, não no mundo sensorial”, disse ao site Vox o matemático Robert Kaplan, professor em Harvard e autor de um livro que conta a história do zero. 

Incorporar o conceito do zero, para o professor de ciência cognitiva Andreas Nieder, da Universidade de Tubingen, foi algo “equivalente ao aprendizado da linguagem”. Segundo ele, é preciso percorrer quatro etapas psicológicas para compreender o conceito:

  1. a experiência de como sentimos e percebemos o mundo;
  2. como reagimos aos fatores externos;
  3. a leitura e análise do que se observa, como o fato de entendermos o zero como símbolo do vazio ou número menor do que um; 
  4. o uso dessa compreensão como ferramenta, como ocorre com na matemática.

Crianças muito pequenas ainda não desenvolveram completamente nenhuma dessas etapas. 

Isso explica em parte por que o zero demorou tanto a ser reconhecido como parte integrante da matemática. Ainda que os antigos matemáticos já fossem adultos, havia um percurso abstrato a vencer. Não existe o zero, por exemplo, no sistema numérico romano. Enquanto os césares e suas cortes usavam letras, novas ideias matemáticas surgiam ao oriente. 

A história do zero continua com os indianos, os primeiros a descreverem o número, por volta de 458 A.C., mas eles não pretendiam fazer contas com ele. A palavra zero viria do Sunyata, conceito do budismo que simboliza o vazio. Levou quase mil anos para que ele começasse a ser usado na matemática, com regras definidas, pelo astrônomo e matemático Brahmagupta. 

O símbolo era representado por um ponto abaixo dos números e foi por meio das formulações de Brahmagupta – pelo sistema de adição ou subtração –, que o zero poderia ser atingido. Brahmagupta é conhecido por ser o responsável em oferecer a primeira solução para a equação polinomial de grau dois, a popular equação de segundo grau. 

A curiosa descoberta e história do zero, e de como ele pode ser usado na matemática, foi elementar para a concepção da álgebra, da física moderna e até mesmo de invenções como o computador. Tudo o que você vê na tela depende de muitas combinações de zeros e uns, que representam os estados eletrônicos “ligado” e “desligado”

Ou seja, o zero é parte fundamental da compreensão que temos do mundo atual. 

Ao mesmo tempo que a sua definição é um tanto abstrata, compreendemos que ele representa algo material a partir da ausência. É como se fosse o nada que permite que todo o resto exista. Só conseguimos pensar no zero ao refletir sobre o que não está lá, portanto. 


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