Alunos com senso numérico têm melhor desempenho em Matemática

14 de fevereiro de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Para Jo Boaler, fluência em matemática depende de flexibilidade e profundidade

Decorar a tabuada faz parte da rotina e é uma etapa tensa na vida escolar da maioria dos estudantes no mundo. Mas será que esse é o caminho? O aluno que apenas decora leva esse conhecimento para a vida? A essência da disciplina não é a memória, mas o raciocínio. Estudos apontam que essa maneira de ensinar é um equívoco e que a matemática deve ser aprendida com profundidade e flexibilidade, por meio do senso numérico. O tema é abordado pela professora de ensino de matemática da Universidade Stanford Jo Boaler no artigo Fluência Sem Medo: Pesquisas Mostram as Melhores Formas de Aprender Fatos Matemáticos”, disponível no Youcubed.

O texto introduz o assunto resgatando o caso de um político britânico ridicularizado após errar o resultado de (7 x 8). O erro inofensivo durante uma entrevista teve impacto no currículo de matemática das escolas do Reino Unido, que passou a exigir que os alunos de 9 anos decorem a tabuada até o (12 x 12). Boaler diz que a exigência resulta “no aumento da ansiedade e da repulsa dos alunos em relação à matemática em números recorde”. 

Para a professora, o erro do ministro inglês – que gerou clamores por mais memorização – deveria, na verdade, destacar a necessidade se incentivar o “senso numérico” das crianças. Forma de interagir e interpretar os números, o senso numérico simplifica as contas e afasta a memorização. Pessoas com senso numérico conseguem usar números com flexibilidade, sabem como podem ser compostos e decompostos para resolver problemas. Um exemplo são as conversas numéricas, atividade do Programa Mentalidades Matemáticas. Veja, por exemplo, quantas estratégias são possíveis para fazer a conta (18 x 5):

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Pesquisas concluíram que a melhor maneira de fortalecer a fluência com números é desenvolver o senso numérico, ao invés de memorizá-los. Os pesquisadores Eddie Gray e David Tall realizaram um estudo com estudantes de 7 a 13 anos, e descobriram que alunos de alto desempenho usam o senso numérico, e os de baixo desempenho não. Os primeiros transformam a adição (19 + 7) em (20 + 6) e a subtração (21-16) em (20-15), que são mais fáceis de resolver. Na subtração, alunos de baixo desempenho fazem contagem decrescente a partir do 21, tarefa mais difícil. Os resultados demonstram que os alunos têm baixo rendimento porque não utilizam os números com flexibilidade, e não porque são incapazes.

Estresse gera ansiedade e fecha portas da matemática

O modelo de ensino que privilegia a rapidez e a memorização deve ser afastado com urgência, defende Jo Boaler. A educadora descobriu que cerca de 30% de seus alunos começaram a relacionar matemática e ansiedade com a introdução das provas cronometradas na vida escolar. Os estudos do pesquisador Sian Beilock constataram que o estresse afeta a memória, o que dificulta o acesso ao conteúdo estudado. Ao submeter estudantes a experiências que despertam ansiedade, fecham-se as portas da matemática, alimentando traumas e distâncias. Boaler relata sua experiência pessoal. “Quando minha própria filha começou a decorar tabuadas e a fazer testes aos 5 anos de idade na Inglaterra, ela começou a voltar para casa chorando por causa da matemática.”

As pesquisas em neurociência revelam que ao fazermos cálculos matemáticos, usamos cinco campos diferentes do cérebro. Joonkoo Park e Elizabeth Brannonm, da Universidade Duke (EUA), destacam que os alunos com melhores notas em matemática são os que usufruem de rotas cerebrais diferentes, como as rotas simbólica, intuitiva e espacial. O estudo ressaltou o melhor desempenho e rapidez dos alunos que aprenderam pelo senso numérico em relação aos que aprenderam pela memorização.

Boaler faz ainda uma comparação com o ensino de línguas ou literatura. Para interpretar romances ou poesias, é necessário conhecer o significado de muitas palavras. Mas nenhum professor exige dos alunos a memorização de centenas de palavras e os testa sob a pressão do cronômetro. Usamos as palavras em situações diferentes, como na fala ou na escrita, e as utilizamos conforme o contexto. Por que não fazer o mesmo com a matemática?

O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é realizado a cada quatro anos com 13 de milhões de adolescentes de 15 anos em todo mundo. Segundos os dados coletados sobre as estratégias matemáticas utilizadas, os alunos de baixo desempenho aprenderam matemática pela memorização. Já o grupo de alunos com melhores resultados faz conexões entre as ideias fundamentais de matemática, constrói sentidos através de seus conceitos. Têm senso numérico. 

Como desenvolver o senso numérico

Antes de concluir o artigo, Boaler apresenta atividades para estimular e desenvolver senso numérico. Os exercícios, disponíveis na plataforma Youcubed, despertam o prazer na relação com a disciplina. Os estudantes podem compartilhar estratégias diferentes, entender as quatro operações básicas e compreender conceitualmente os números e as propriedades matemáticas fundamentais para um bom desempenho escolar.

Após apresentar tantas evidências científicas que contestam o ensino de matemática pela rapidez e a memorização, Jo Boaler conclui que é preciso substituir, urgentemente, o modelo de ensino de matemática. “Temos o conhecimento científico de que precisamos para mudar isso, e para permitir que todos os alunos sejam poderosos aprendizes de matemática. Agora, está na hora de usá-lo.”

Acesse aqui o artigo completo.


Mentalidades Matemáticas

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