‘Multiplicando Saberes’ mostrou como levar Mentalidades Matemáticas à sala de aula

22 de dezembro de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Temas debatidos em seis encontros foram da formação dos professores à adaptação de currículos e atividades em aula

No segundo semestre de 2020, o Instituto Sidarta promoveu a série de webinars “Multiplicando Saberes”. Ao longo dos seis encontros virtuais, transmitidos por meio do YouTube e Facebook, os convidados apresentaram experiências do Programa Mentalidades Matemáticas em escolas públicas e seus resultados, discutiram sobre flexibilidade numérica, a matemática visual, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sugeriram atividades para sala de aula. A série é uma adaptação do Seminário Mentalidades Matemáticas, e foi realizada em parceria com o Itaú Social e o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). Os webinários já foram assistidos mais de 7 mil vezes.

 

O webinar que abriu a série foi “Curso de Férias: experiência em escola pública”, em 9 de julho. Participaram Jack Dieckmann, diretor de pesquisa da plataforma YouCubed, da Universidade Stanford (EUA), Carol Piaia, coordenadora do Programa Mentalidades Matemáticas e Telma Scott, coordenadora do Programa de Ensino para Equidade do Instituto Sidarta. Eles falaram sobre a rotina do Curso de Férias do Mentalidades Matemáticas, oferecido em janeiro de 2020 na Escola Municipal Prefeito Ivo Mario Isaac Pires, em Cotia (SP). Na conversa, eles detalharam vivências, o currículo e a formação de professores referentes ao curso. 

O curso promoveu o senso numérico e pensamento algébrico, e difundiu entre os participantes a noção de que todos podemos ser bons em matemática. Os alunos foram estimulados a perguntar, argumentar e fazer conjecturas, representações numéricas e visuais. Duas instrutoras do Curso estiveram no primeiro webinar. Emília Gil recordou a transformação das crianças nas aulas. “Aprenderam a se preocupar com o outro e que a velocidade não é importante”, disse. “Fiquei emocionada ao escutar um aluno perguntar aos colegas: vocês estão convencidos com a minha resolução? Muitos se reconheceram como ‘matemáticos’ no final do curso”. Janaína Chaves lembrou das primeiras dificuldades como instrutora em uma nova abordagem e falou sobre a formação de uma comunidade de aprendizagem entre os professores. Assista o webinar na íntegra:

Em agosto, foi ao ar o webinar “Curso de Férias Mentalidades Matemáticas: resultados e evidências”, em que os convidados discutiram as evidências e resultados relativos à experiência do Curso de Férias.  Entre eles, está um ganho equivalente a 1,3 ano de escolaridade em conceitos matemáticos em apenas 10 dias. Jack Dieckmann apresentou o webinar ao lado de Telma Scott, coordenadora do Ensino para Equidade do Instituto Sidarta, que mediou o evento. Participaram ainda Juliana Yade, especialista em educação do Itaú Social, Anna Karina da Col, formadora do Programa Mentalidades Matemáticas e Regiane Picinin, instrutora do Curso de Férias. 

Em média, as meninas tiveram avanço 3.5 vezes maior do que o dos meninos. Além disso, também se debateu como encarar resultados em sala de aula. “Precisamos enxergar esses resultados de forma abrangente, olhando os testes, mas também as atitudes, a participação dos alunos e se eles se reconhecem como seres matemáticos”, afirmou o pesquisador. Outro ponto importante percebido foi que, após o curso, quase todos os participantes (96%) compreenderam que errar faz parte do processo de aprendizagem. É algo muito diferente do pensamento tradicional relacionado à disciplina, segundo o qual ser bom em matemática parece com ser uma máquina calculadora: só acertar – e rápido. Veja o webinar na íntegra:

Outro assunto escolhido para a série de webinars foi a flexibilidade numérica. Dieckmann teve a companhia de Maitê Salinas e Carolina Piaia, formadoras do Programa Mentalidades Matemáticas. No encontro, o desenvolvimento da flexibilidade numérica foi contraposto ao ensino focado na velocidade, memorização e repetição. O prejuízo com métodos tradicionais é que ensinar dessa forma reprime a criatividade, aumenta a ansiedade matemática, a perda de autoconfiança e a falta de interesse de se aprofundar na disciplina. 

Um estudo dos pesquisadores britânicos Eddie Gray e David Tall foi abordado. Eles observaram as estratégias de alunos de alto e baixo desempenho em matemática e perceberam que o segundo grupo segue o caminho errado, tentando memorizar métodos em vez de interagir com os números. Uma das questões é que pensam que não é permitido fazer contas de outra forma que não aquela que foi ensinada passo a passo. 

Por outro lado, em contextos onde os alunos se sentem confortáveis para pensar – e errar -, caminhos múltiplos para o acerto são encontrados. Para isso, é preciso garantir a calma necessária. Carolina disse que as pausas e silêncios durante a atividade viram um costume: “São incômodos, porém necessários para que entendam que todos têm oportunidade de falar. Os alunos começam a se escutar melhor, a se questionar sobre um comportamento anterior, o de se calar”, diz. Veja o webinar na íntegra:

Muitos ainda têm a impressão de que a abordagem visual na matemática é apenas “para crianças”. O webinar “A beleza da matemática visual” veio para contrapor esse pensamento. A conversa reuniu Jack Dieckmann e Maitê Salinas às professoras Indira Vânia Pereira da Silva e Marina Cajado, instrutoras do Curso de Férias Mentalidades Matemáticas, e Carol Piaia, também formadora do programa que mediou o debate. 

Segundo a experiência dos educadores e outros estudos, formas e cores levam adolescentes e adultos a desenvolver uma melhor intuição matemática. Além disso, passamos a ter uma compreensão mais profunda da disciplina quando usamos recursos visuais. Os professores trouxeram exemplos que podem ser usados em sala de aula. “Às vezes os alunos ficam fechados num cantinho, mas aí você coloca uma imagem e eles começam a se aproximar e vão contribuindo uns com os outros”, disse Maitê. Para ela, “O visual faz um acolhimento a todos, mas também serve como mais uma forma de ver, e quando trazemos diferentes formas de ver estamos olhando para todos”.

Indira personifica a percepção de Maitê. Ela contou que um teria gostado muito mais da matemática na escola se tivesse conhecido a disciplina de outras maneiras. Após ser exposta à abordagem, ficou tão encantada que escreveu em seu diário: “Ouvi algo que me fez pensar: se só explicações fossem suficientes, teríamos altos níveis de educação. Ao pensar na minha trajetória enquanto estudante e agora como aprendiz de matemática, percebo que é preciso urgentemente mudar a maneira como a matemática é oferecida aos estudantes. Chegou a hora de potencializar o ensino com cores, símbolos, formas, conectando suas experiências com a vida – ou seja, apresentando a beleza da matemática.” Clique aqui para ver o webinar na íntegra:

Em novembro, Maitê, Jack e dois novos convidados colocaram a Base Nacional Comum Curricular em perspectiva para trazer pontes possíveis entre a teoria e o que é requerido na prática brasileira. A Base prevê que o professor aborde os conteúdos à sua maneira. Chamar atenção para as grandes ideias que ligam os elementos curriculares pode ser uma diretriz interessante para o professor, já que ajuda a focar o ensino na compreensão do aluno. 

O próprio conceito de grandes ideias foi esclarecido no encontro. Segundo os participantes, são os temas que “amarram” os elementos do currículo. A organização dos números em “famílias”, por exemplo, pode unir a ideia de proporções e as equações. Já a ideia de flexibilidade numérica pode ligar as equações e a noção de probabilidade.

 Para alcançá-las, Jack enfatiza: “Não é suficiente o professor dizer que toda a matemática é conectada e depois focar em um procedimento hoje e em outra coisinha amanhã. Isso não está alinhado com a ideia de conexão das grandes ideias, tudo tem que estar conectado no sistema.” Como não existem receitas prontas, é preciso que se engajem na tentativa. Henrique Martins, do Instituto Federal de São Paulo, louvou a “insubordinação criativa”, com a autonomia do professor para reorganizar o currículo da forma que funcionar melhor didaticamente. O professor de matemática Natan Onoda trouxe ao horizonte a importância de os alunos discutirem em grupo suas conclusões. Assista o webinar na íntegra aqui.

O último webinar da série, em dezembro, foi “Estúdio de Criação: transformando as atividades na sala de aula”. O encontro virtual incentivou os professores a darem os primeiros passos para mudar a forma de ensinar. Para isso, o “prático” encontro forneceu ferramentas para professores criarem novas atividades. Os convidados destacaram estratégias e princípios para inspirar o início da aplicação em sala de aula. Além de Maitê e Jack, os participantes foram Cassiano Souza, formador do programa Mentalidades Matemáticas

Foram indicados jogos, posturas produtivas para os professores e nortes a manter. “Uma hora jogando, discutindo, pensando na estratégia do outro e evoluindo as suas próprias pode valer muito mais do que uma sessão de repetição e treinos de matemática, inclusive para aprender os fatos matemáticos”, disse Souza, para quem os jogos ajudam a flexibilidade numérica. As crianças ficam “à vontade para usar os números de várias maneiras diferentes”.

Maitê explicou que o professor deve exercer um papel de cético, para instigar a reflexão sobre as conclusões dos alunos. Ao invés de duvidar dessas conclusões, porém, cabe-lhe pedir mais explicações. E Jack sugeriu uma inversão frutífera de uma dinâmica tradicional de sala de aula: dar respostas aos alunos e pedir que eles descubram as perguntas. Pode-se por exemplo dar um mote numérico e perguntar qual equação teria aquela resposta. Clique aqui para assistir.


Mentalidades Matemáticas

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