Colecionando Práticas: onde você encontra a matemática fora da sala de aula?
Atualizado em: 22/12/2023
Relato de Susy Nagaki, professora de matemática do Colégio Sidarta, escola de aplicação do Instituto Sidarta
Os alunos de 1º a 3º ano do Colégio Sidarta comemoraram o Dia Internacional da Matemática, na semana do dia 15 a 19 de março. Foi um evento promovido pela pela UNESCO que contou com a participação de 110 países. As crianças foram convidadas a investigar a matemática fora da sala de aula. Elas ficaram muito curiosas com a proposta. A atividade realizada foi a “Caça ao tesouro matemático”, disponível no site Mentalidades Matemáticas.
Mas não foram só as crianças que tiveram a oportunidade de curtir a atividade. A equipe de Mentalidades Matemáticas se reuniu anteriormente para vivenciar a proposta, como aprendizes de matemática. Essa é uma prática importante para entender as potencialidades de uma atividade a ser realizada com os estudantes.
Como sempre, as crianças nos mostram como são potentes e questionadoras. Organizamos esta proposta em três dias, foram dois dias de vivência e no último dia socializamos as ideias e as principais aprendizagens. Os alunos que estavam no modelo EaD também tiveram a oportunidade de participar.
Neste jogo, não havia ganhadores. O objetivo era: cooperar, se divertir e enxergar a beleza da matemática em nosso dia a dia (Prática de Mentalidade Matemática 2 – Natureza da Matemática). A atividade sugerida, continha uma lista de itens que precisavam ser buscados pelas equipes pela escola e ou em casa:
1 – Círculos dentro de outros círculos; 2- Um grupo de coisas semelhantes, organizado por tamanho; 3 – Objetos com formas geométricas interessantes; 4- Algo da natureza com formas bem geométricas; 5- Um grupo de coisas tão numeroso que é difícil de ser contado; 6- Um design feito com formas geométricas uma ao lado da outra sem deixar espaços; 7 – Algo que tenha superfície plana e bordas retas, sem curvas. |
Para que os objetivos fossem claros para os alunos, fiz um cartão de atividade contendo as instruções e as normas do jogo (conversar e decidir; ninguém termina enquanto todos não terminam; e participar e colaborar).
As crianças ficaram muito empolgadas com a proposta oferecida. Criamos grupos com no máximo 5 crianças para que todos tivessem a oportunidade de participar da atividade. Em equipes, as crianças procuraram os tesouros no espaço escolar e os mostravam uns para os outros para decidir se eram tesouros ou não. O trabalho em grupos colaborativos reforçam a Prática de Mentalidade Matemática 4 – Conexões e Colaborações. Haviam discordâncias em alguns momentos, mas os alunos do 3º ano se atentaram às normas: “Pessoal, precisamos conversar e decidir para chegar ao consenso”, expliquei. Convidei as crianças do 1º e 2º para decidir em grupo, e pedi para que defendessem seu ponto de vista para os demais membros da equipe.
Na turma do 1º ano, nós professores lemos as instruções e combinamos as normas com as crianças. Nesse momento um aluno percebeu: “Então todo mundo tem que pensar junto, não é?”. Já nas turmas de 2º e 3º, a leitura foi realizada pelos próprios alunos. Todos queriam ler um pouco, então organizaram o momento da leitura de modo que cada um pudesse ler um pouco: “Eu leio esse tesouro agora. Posso? Aí alguém pode ler o próximo”.
Na busca pelos tesouros, algo que foi muito marcante foi a reflexão dos alunos em relação à matemática. Por exemplo, uma aluna do 3º ano comentou: “E eu achava que matemática era só os números, olha a nossa escola! Quanta matemática tem”. Outro aluno complementou: “Tudo é matemática, a natureza, os materiais que nós usamos, a escola, o trabalho, o jogo…”,
A atividade possibilitou muita criatividade e argumentação. A observação da área externa da escola fez com que os alunos buscassem a matemática por toda a parte. A turma do 1º ano, estava procurando o item “um grupo de coisas tão numeroso que é difícil de ser contado”. Eles iniciaram a contagem das pedras e verificaram que era algo difícil de ser contado. O grupo chegou, então, à conclusão que haviam encontrado o tesouro.
No último dia de vivência, fizemos uma apreciação dos tesouros encontrados por cada equipe e conversamos sobre a experiência. As crianças tiveram a oportunidade de apresentar seu ponto de vista e ouvir novas ideias de outra equipe. Um aluno do 2º ano, após ouvir uma observação de sua amiga, comentou: “Nossa, eu não tinha visto isso no dia em que achamos esse tesouro!”. Foi um momento rico em aprendizagem. Perguntei para os alunos o que eles aprenderam dessa experiência. Veja alguns relatos:
“Eu percebi que a matemática está na natureza, no formato das folhas.”
“Eu vi a matemática no nosso parque.”
“Eu aprendi a trabalhar com a minha equipe, porque a gente conversava e decidia junto.”
“Eu consegui ver que a matemática estava mesmo em toda parte. Olha quantas fotos a gente conseguiu tirar, é porque encontramos muitas coisas mesmo.”
“Eu brinco todo dia no parque, mas hoje eu observei as formas geométricas tipo, o círculo na escalada, os triângulos no brinquedo, tinha até cilindro na gangorra.”
Mas a atividade não acabou por aí. Passado um mês da aplicação desta atividade, ouço uma conversa entre duas alunas do 1º ano: “Vamos brincar daquela brincadeira de caça ao tesouro? Quero ver quem encontra um triângulo aqui.”. Foram dias incríveis, com muitos momentos de troca, engajamento, trabalho em grupo, colaboração e principalmente uma matemática aberta, criativa e visual.