Para especialistas, ‘média móvel’ é mais eficiente para analisar a evolução da pandemia

24 de julho de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Indicador reduz distorções causadas pelo ritmo de notificações e mostra cenário mais preciso

Você deve ter percebido que uma nova estatística apareceu no noticiário sobre a pandemia do coronavírus. Depois dos números de casos e mortes diários e acumulados, os jornais destacam a média móvel. O Jornal Nacional, principal telejornal do país, adotou a prática em 9 de julho e todo dia exibe os dados do país e dos estados. Especialistas afirmam que a média móvel é mais eficiente para analisar o avanço da Covid-19 e lidar com os atrasos das notificações. Como funciona e por que está sendo adotada? Qual a situação do país por meio desse cálculo?

A média móvel é um indicador que busca enxergar com mais precisão o estágio da pandemia, estabelecendo um padrão que reduz possíveis distorções. Para calculá-la, somam-se os números de casos ou de mortes nos últimos sete dias e divide-se o resultado por sete. Ela é móvel porque ao acrescentar os dados de um novo dia, os números do dia mais antigo são excluídos, mantendo sempre os sete dias para a base do cálculo. É um recurso estatístico muito utilizado no mercado de ações.

Uma das distorções que a média móvel supera é o ritmo das notificações. Os registros relacionados à Covid são menores aos sábados, domingos e segundas-feiras e maiores às terças e quartas. Isso acontece porque muitos laboratórios não trabalham aos finais de semana e os dados acumulam. “Vemos claramente que o número de notificações é menor no fim de semana. Só isso já vai fazer parecer que o vírus descansa nesse dias. Mas é um efeito que não tem nada a ver com a epidemia”, afirmou Paulo Inácio Prado, professor do Instituto de Biociências da USP e integrante do Observatório COVID-19 BR, à BBC Brasil.

A média móvel de mortes por Covid-19 no país aumentou rapidamente entre abril e o fim de maio e atingiu 1 mil mortes no início de junho. Desde então, manteve-se estável, mas com números muito altos. O menor índice nesse período foi registrado em 2 de junho, com média de 947 mortes. Dia 15 de julho registrou a maior média, com 1.067 óbitos diários nos últimos sete dias. (favor avisar antes da publicação para atualizar os dados)

No gráfico abaixo, o vermelho representa a média móvel e o cinza, o número de mortes diárias. No dia 6 de julho, por exemplo, uma segunda-feira, houve 656 falecimentos registrados. A epidemia está cedendo? Não, está estável, porque a média móvel foi de 1.024. No dia seguinte, terça-feira, foram 1.312 óbitos, e a média assinalou 1.030 vidas perdidas. (Fonte: G1)

O número de casos aumentou até o início de julho e aparentemente ficou estável, novamente com um valor muito alto, ao redor de 38 mil casos. Veja abaixo a diferença das curvas do total de casos e a média móvel. Se você fosse um analista, qual dos dois lhe daria um cenário mais realista? (Fonte: G1)

Todas informações sobre mortes e casos são apuradas pelo consórcio formado por Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo, G1 e UOL para reunir e divulgar os números relativos à pandemia do novo coronavírus. As informações são coletadas com as Secretarias de Saúde estaduais.

Uma evolução diferente em cada estado

É um enorme desafio para os matemáticos analisar a evolução da pandemia em um país de mais de 8 milhões de km² com realidades e dinâmicas tão distintas. E está incluída nesta equação a variável política, pois não existe uma ação coordenada entre governo federal, municípios e estados e as decisões sobre isolamento social ou flexibilização nem sempre envolvem questões sanitárias.

Como saber o estágio da evolução da doença em sua cidade ou estado, se está estável, cresce ou diminui? Especialistas sugerem comparar as datas dos gráficos a cada 14 dias, pois esse é o período médio de incubação, surgimento dos primeiros sintomas e a procura pelo sistema de saúde, quando o caso é notificado. Se esses valores variam em até 15%, a situação é estável. Se a diferença for superior, medidas mais restritivas devem ser tomadas. Se for inferior, a flexibilização pode ser planejada. Em todos os casos, deve-se acompanhar a tendência por 2, 3 semanas.

O gráfico abaixo mostra a média móvel de mortes por unidade da federação. No dia 16 de julho, 12 estados tiveram aumento de mortes, 9 permaneceram estáveis e 6 apontaram queda. Destaque negativo para a região Sul, que registrou alta (RS +66%, SC +93% e PR +87%). Já Roraima (-73%) e Rio Grande do Norte (-35%) registraram as maiores quedas. Lembrando que o gráfico respeita o valor de 15% para estabilidade. (Fonte: O Globo)

Para comparar a tendência de cada estado, veja os gráficos de média móvel de casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Pará e Minas Gerais. (Fonte: O Globo)

Os números são animadores em algumas regiões do país, alarmantes em outras. Na média, acompanhando a tendência do vírus arrefecer nas capitais e avançar no interior – onde os sistemas de saúde têm menos recursos – a pandemia está longe do controle no Brasil. Mil mortes diárias não podem ser minimizadas. O caso dos EUA, em que a pandemia parecia ter atingido seu pico e voltou a disparar com a flexibilização da quarentena, demonstra que a sociedade deve manter-se atenta. 

“É muito complicado nos acostumarmos com mil mortes por Covid-19 todo dia. A gente começa a achar que é normal, mas isso não é normal”, disse Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, à BBC.

Que tal apresentar a média móvel para os alunos? Selecione alguns gráficos e aproveite artes exibidas nas televisões para facilitar a visualização deles. Aqui no blog, contamos o exemplo da professora Maitê Salinas que usou progressões e gráficos em uma aula para explicar o isolamento social. Por conta da pandemia, o Youcubed incluiu uma atividade de análise de gráficos, recomendada para alunos a partir do 3º ano do Ensino Fundamental. E na plataforma você encontra outros exercícios criativos para que desenvolvem o reconhecimento de padrões, senso numérico e álgebra, entre outros. Clique aqui para acessar.


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