Poço da aprendizagem: alunos evoluem mais quando são desafiados

10 de fevereiro de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Dificuldade e esforço são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro

Você lê a questão e acredita saber a resposta. Parece fácil. Começa a respondê-la e percebe ser mais difícil do que pensava. Tenta e erra. Você se sente confuso, incapaz. Acha que não é bom em matemática, pensa em desistir.  Você está no fundo do poço da aprendizagem. Ao contrário do que se imagina, esse é o melhor momento para aprender e para o cérebro se desenvolver. 

O poço de aprendizagem foi criado por James Nottinghan e utilizado pela professora Jo Boaler, da Escola de Educação da Universidade Stanford, para explicar os benefícios do esforço em seu livro “Mente sem Barreiras”. Ela defende que os alunos precisam ser instigados a resolver questões que estejam no limite de sua compreensão, em um ambiente que os benefícios das dificuldades e dos erros sejam valorizados. 

Poço de aprendizagem, criado por James Nottinghan.

Cofundadora da plataforma Youcubed, Boaler relata um caso em sala de aula. Uma aluna explicava um cálculo para a classe quando de repente hesitou. Poucos segundos depois, paralisou, disse que não conseguia prosseguir. Silêncio total na classe. Nessa situação incômoda, a professora poderia ajudá-la, mas ao invés disso, disse à aluna que não se sentasse e continuasse. A garota ficou na frente dos colegas até resolver o cálculo. Após a aula, a menina refletiu sobre aquele momento: “a professora não desistiu de mim”. A pressão da professora para que ela enfrentasse a situação foi um sinal de que ela acreditava em seu esforço. Um voto de confiança.

Quando somos desafiados e cometemos erros, nossos cérebros ficam mais ativos do que quando acertamos uma resposta. Quando erramos, as sinapses disparam, as rotas neurais se fortalecem e nosso cérebro cresce. Essa foi a descoberta do pesquisador Jason Moser, que analisou as reações cerebrais de estudantes que respondiam a testes de matemática por meio de ressonância magnética. 

Os estudos em neurociência apontam também a importância da mielina na rotas cerebrais. O cérebro funciona por uma rede interconectada de fibras nervosas. A mielina é uma substância que envolve essas fibras e aumenta a força e velocidade na transmissão de sinais. Quando revemos uma ideia, a mielina reveste as rotas neurais envolvidas, tornando os pensamentos mais fluentes e eficientes no futuro. Para desenvolver essas rotas, é preciso estudar no limite da compreensão, cometer erros, desafiar-se.

Saindo do poço de aprendizagem

Após conhecer o fundo do poço da aprendizagem, o estudante reconhece que tem dificuldades e precisa se esforçar mais. Se ele se acalmar, se concentrar e buscar outras maneiras para resolver o exercício, certamente encontrará um caminho. Um pouco mais de esforço e ele sente uma injeção de confiança, percebe que avança no exercício, começa a ficar mais fácil. Até que enfim, o resolve. Ele saiu do poço da aprendizagem.

Boaler conta que, em suas conversas com professores de escolas de todo mundo, costuma escutar reclamações sobre a ausência de esforço dos alunos, que eles querem que lhes digam o que fazer, e não ser incomodados com dificuldades. “Mas na verdade, eles têm mentalidade fixa. Em algum momento de suas vidas eles receberam a ideia que não podem ser bem-sucedidos e que o esforço é uma indicação que eles não estão indo bem”, considera.

Um estudo assinado pelo pesquisador Jim Stigler sobre o ensino de matemática em sete países revela que um dos objetivos dos professores japoneses é fazer os alunos se esforçarem. Para isso, davam a resposta errada de propósito para que os estudantes voltassem a trabalhar com os principais conceitos matemáticos. Os professores acreditam que, ao ajudar um aluno, estruturando a resposta, subdividindo questões, perde-se uma oportunidade de desafio e esforço. Os alunos poderiam ser auxiliados e se sentiriam bem, mas aprenderiam pouco. 

“Quando as pessoas entendem que podem aprender qualquer coisa e que a dificuldade é um sinal positivo, elas aprendem de uma forma diferente e também interagem de forma diferente. Em vez de pensar que precisam saber tudo, as pessoas tornam-se abertas para serem vulneráveis e compartilham a incerteza. Essa mudança é libertadora”, afirma Jo Boaler.  


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