‘Precisamos pensar juntos, conectados em comunidade de professores’ diz Jack Dieckmann
Atualizado em: 22/12/2023
Curso de Férias Mentalidades Matemáticas é tema do primeiro webinar da série ‘Multiplicando Saberes’, do Instituto Sidarta
A transformação no ensino de matemática é um processo coletivo, em que todos aprendemos juntos. Como contribuir para essa mudança? O webinar “Curso de Férias Mentalidades Matemáticas: experiência em escola pública” abordou este e outros temas quinta-feira (9) no Facebook do Mentalidades Matemáticas. O encontro abriu a série de webinários “Multiplicando Saberes”, promovido pelo Instituto Sidarta em parceria com Itaú Social e com o apoio do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). Dedicado a professores dos Ensinos Fundamental e Médio, o projeto terá seis eventos virtuais, um por mês. O próximo será em 13 de agosto.
“Não estamos dizendo que já sabemos o que fazer, que temos todas respostas. Temos provas do sucesso da abordagem, mas precisamos pensar juntos, trocar ideias, estar conectados com o apoio da comunidade de professores”, afirmou Jack Dieckmann, diretor de pesquisa da plataforma YouCubed, da Universidade Stanford (EUA).
Jack apresentou o webinar ao lado de Carol Piaia, coordenadora do Programa Mentalidades Matemáticas e de Telma Scott, coordenadora do Programa de Ensino para Equidade do Instituto Sidarta. Eles detalharam as vivências, o currículo e a formação de professores do Curso de Férias do Programa Mentalidades Matemáticas, em janeiro de 2020 na Escola Municipal Prefeito Ivo Mario Isaac Pires, em Cotia (SP).
Cerca de 230 pessoas acompanharam o webinar ao vivo No total, o evento já alcançou mais de 8.500 mil até esta segunda-feira (13). Nos comentários, muita interação e até uma votação on-line. “Que palavra representa sua experiência com matemática na escola?”, perguntou Jack Dieckmann. Usando a plataforma mentimeter para analisar as respostas do público – em boa parte professores -, as palavras mais repetidas foram “medo”, “desafio”, “desespero”, “dúvida”. Como mudar isso?
Antes de chegar ao Brasil, o Curso de Férias (Summer Camp, em inglês) foi realizado pelo Youcubed e a Faculdade de Educação da Universidade Stanford nos Estados Unidos em 2015, em 18 dias. Com 86 participantes, obteve excelentes resultados: os alunos alcançaram aprendizado equivalente a 2,5 anos de estudo. Em 2019 e 2020, o curso ocorreu em 16 distritos escolares nos EUA, Escócia e Brasil, com adaptações para cada realidade.
“Decidimos trabalhar com alunos começando no 5º ano do Ensino Fundamental, a duração foi menor, de dez dias, mas em período integral. Criamos atividades mais lúdicas. Queremos fortalecer a identidade matemática das crianças, fazer elas perceberem que são capazes de pensar como matemáticos”, afirma Telma.
Pela manhã, as crianças faziam atividades em sala de aula, com foco em um conteúdo matemático para desenvolver senso numérico e pensamento algébrico, estimulando o aluno a perguntar, argumentar e fazer conjecturas e representações numéricas e visuais. As crianças recebem mensagens de Mentalidades Matemáticas, como a ideia que todos podemos ser bons em matemática, as dificuldades e os desafios são o melhor momento para desenvolver o cérebro e os erros devem ser valorizados.
Destaque para as “Conversas Numéricas”, com oito atividades em dez dias, em que os estudantes debateram diferentes formas para chegar ao resultado, privilegiando raciocínio lógico, flexibilidade dos números e profundidade em vez de velocidade nas respostas. “Percebemos como a atividade é potente para crianças, que elaboram seus cálculos mentais e ficam felizes em compartilhar suas estratégias com os outros”, diz Telma. Outra atividade importante foi a dos “Cubos Pintados”.
Emília Gil, instrutora do Curso de Férias, recordou a transformação das crianças nas aulas, ao ouvir e respeitar as ideias dos colegas. “Aprenderam a se preocupar com o outro e que a velocidade não é importante. Fiquei emocionada ao escutar um aluno perguntar aos colegas: vocês estão convencidos com a minha resolução? Muitos se reconheceram como ‘matemáticos’ no final do curso.”
“Matemáticos Inspiradores” estimula a identificação dos alunos com profissionais de diferentes gêneros, nacionalidades e períodos históricos. A professora de educação matemática de Stanford e criadora do Mentalidades Matemáticas, Jo Boaler, foi uma das personagens, ao lado do matemático brasileiro Artur Avila, ganhador da Medalha Fields, e da pesquisadora de etnomatemática Maria da Conceição dos Santos França. Suas histórias foram fixadas na parede da sala, ao lado das estratégias dos alunos. “As crianças ficavam muito orgulhosas quando viam suas ideias fixadas, validadas e compartilhadas, sentiam que também faziam matemática”, contou Telma.
As aulas da tarde foram desenvolvidas pela equipe do Mentalidades Matemáticas para ampliar o repertório e reforçar as mensagens da manhã. O foco do trabalho são desafio e persistência, o elogio ao esforço e valorização das dificuldades. Além disso, estimular a comunidade de aprendizagem, a colaboração e a autoconfiança com trabalhos em grupo.
As vivências desejam demonstrar que a matemática está em todo lugar. Foram valorizados materiais de baixo custo – como canudos e caixas de papelão para a construir figuras geométricas -, para as crianças explorassem a disciplina em casas. Entre outras atividades, brincadeiras de infância como amarelinha, “corre cotia”, pular corda, jogos de tabuleiro, boliche finlandês e o teca-teca, amarelinha africana.
Tudo foi registrado pelos alunos em seus diários. Os exercícios matemáticos, aprendizagens e sentimentos eram compartilhados com os professores, que respondiam e estimulavam mais reflexões. Acostumados a copiar o que está na lousa, muitos receberam o caderno com estranhamento. No decorrer dos dias, transformou-se em mais um elo com os instrutores, que acompanharam a mudança na relação com disciplina.
Formação de professores
Mas os professores também são aprendizes. Na formação do Programa Mentalidades Matemáticas, vivenciam as mesmas atividades dos alunos, questionando suas práticas para construir uma nova forma de ensinar. O encontro, que constrói uma comunidade de aprendizagem, busca reavivar a relação e história pessoal do docente com a disciplina.
Em “Conversa de Pontos”, os participantes do webinar comentaram uma imagem com sete pontos visualmente e como expressão matemática. O exercício mostrou a flexibilidade dos números, que há mais de uma respostas certa e que se pode trabalhar a disciplina nas formas de texto, formas e números.
“A formação criou uma comunidade de aprendizagem entre os professores, em que todos se apoiam, passando confiança. Minha preocupação era fazer boas intervenções para ajudar as crianças a entender as mensagens de mentalidades. No começo, foi difícil, então parei e disse para mim mesma: ‘tudo bem errar, é um processo que está só no início’”, lembrou Janaína Chaves, instrutora do curso.
A formação debate a cultura de mentalidade de crescimento, a natureza da matemática, o desafio e o esforço, conexões e colaborações e avaliação. Os professores são provocados a se questionar: acredito que todos podem aprender em altos níveis? A prática está focada no resultado ou é mais aberta? Sou ouvido, ouço? Como sinto essa mudança? O processo é registrado em um diário, canal de comunicação com a equipe da formação. “Reconhecendo elementos em comum com as crianças, desenvolvemos empatia. Só me colocando no papel do aluno, poderei apoiá-lo”, considera Carol.
A experiência do Curso de Férias foi transformadora para alunos e professores. Ao apresentar um vídeo que resumia o evento com depoimentos dos participantes, Jack Dieckmann ressaltou a emoção e a energia dos estudantes. “A luz que os meninos têm dentro deles, o entusiasmo com matemática, a vontade de aprender mais, isso dá muito ânimo para os professores e todos os que trabalham no Programa Mentalidades Matemáticas”, afirmou. Para assistir ao primeiro webinar da série “Multiplicando Saberes”, acesse o Facebook do Mentalidades Matemáticas. Todo o material desenvolvidos pelos professores está disponível aqui.
Sobre a Série de Webinários Multiplicando Saberes
A série de webinários “Multiplicando saberes” terá 6 encontros ao vivo para apresentar e debater práticas de sala de aula dentro da abordagem das Mentalidades Matemáticas.
Estes webinários têm por objetivo compartilhar nossas investigações e aprendizagens sobre a aplicabilidade desta abordagem no contexto brasileiro. Os encontros on-line serão conduzidos por Jack Dieckmann, Diretor de Pesquisa do Centro Youcubed da Universidade de Stanford, e pela equipe do Instituto Sidarta e do Programa Mentalidades Matemáticas. Serão seis encontros de 1h30 cada até dezembro de 2020.
O próximo encontro já tem data marcada: será no dia 13/08, e terá como tema a pesquisa inédita desenvolvida pelo Centro Youcubed da Universidade de Stanford para investigar os ganhos de aprendizagens dos alunos ao longo dos 10 dias deste curso de férias. Marque na sua agenda e acompanhe no Facebook!
