Professores vivenciam versão on-line da formação do Programa Mentalidades Matemáticas
Atualizado em: 22/12/2023
Docentes e coordenadores da Escola Estadual Orlando Silva, na zona leste de SP, participam dos encontros virtuais
Trinta e quatro professores do Parque São Rafael – divisa de São Paulo, Mauá e Santo André – começaram a mergulhar em uma matemática aberta, visual e criativa, participando da versão semipresencial do curso Matemática e Equidade, do Programa Mentalidades Matemáticas, na Escola Estadual Orlando Silva Zona Leste de São Paulo.
Promovida pelo Instituto Sidarta com apoio da Cabot Corporation, a formação conta com professores do Ensino Fundamental (anos iniciais), coordenadores pedagógicas da região e profissionais da Diretoria de Ensino Leste 3. Além de discutir as teorias que embasam as propostas de práticas docente, o grupo vivencia trabalhos em grupos colaborativos no formato on-line que possibilitam a criação e fortalecimento de comunidades de aprendizagem e a experimentação da vivência como aprendiz, assim criando uma maior empatia com seus alunos nos seus processos de aprendizagem. “Embora seja um curso totalmente voltado para prática, o momento de distanciamento social, nos levou a fazer algumas adaptações no currículo do curso. Nosso objetivo maior é promover reflexões sobre as práticas pedagógicas e sobre a equidade em sala de aula”, afirma Marina França, formadora do grupo.
O curso é uma adaptação da formação presencial, dividido em seis módulos que debatem os principais conceitos e práticas da abordagem, cujos principais temas são: a neurociência, observação e gestão de sala de aula e promoção da equidade. Durante 26 semanas, os professores participarão de encontros semanais on-line com 1 hora de duração (e mais 1h30 de estudo independente) no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Até agora já foram nove semanas, e as atividades revelaram desafios inesperados e transformadores.
“Nosso desafio inicial foi apoiar os professores no uso de recursos tecnológicos, porque alguns apesar de usarem celular, tinham dificuldades com computadores”, conta Telma Scott, coordenadora pedagógica do Mentalidades Matemáticas. O módulo introdutório, foi criado com o objetivo de além de ser uma introdução à abordagem, servir para acolher essa necessidade e empoderar digitalmente os docentes. A professora Maria Aparecida Moreira relata esse obstáculo. “Antes do curso tinha dois medos, a matemática e a tecnologia e tive que me reinventar para enfrentá-los. Agora, consigo ficar mais à vontade no ambiente virtual.”
As formadoras passaram a usar nas reuniões o aplicativo Zoom, que tem boas ferramentas de navegação. Para manter o trabalho em grupo e seus papéis, baseado no livro da educadora Rachel Lotan, os participantes são organizados em salas virtuais simultâneas, onde trabalham em grupos colaborativos. Após esses debates internos, há o compartilhamento de ideais com a presença de todos numa sala geral. Marina França vê os professores se apropriando das ferramentas e percebendo novas possibilidades de atividades, como usar aplicativos para reuniões on-line com os alunos. “Não estamos trabalhando com eles metodologias de ensino a distância, mas eles estão criando um repertório para atuar durante a pandemia”, diz.
O objetivo do primeiro módulo é conhecer a história e a visão dos participantes sobre a matemática. Em uma das atividades, os professores escreveram uma carta para si mesmos, para ser lida no final do curso. E a formação ofereceu outra surpresa. O exercício, que tinha como finalidade se adaptar às ferramentas virtuais, transformou-se em uma profunda reflexão pessoal e profissional.
Para Aretha do Carmo Venâncio Palmas, foi uma experiência única. “Olhar para si é difícil. Refleti sobre minha trajetória, prática em sala de aula, resgatei minha história pessoal e até mesmo a relação com os professores quando estudante e como era o ensino na época.” Cada participante recebeu um comentário individualizado para agradecer a confiança deles e valorizar suas reflexão. A experiência teve tanto sucesso que alguns coordenadores que participam do curso decidiram levar a atividade para os professores de suas escolas.
O tema do segundo módulo foi a observação em sala de aula. Nesse módulo, são estudadas técnicas para analisar a relação entre a prática docente, a produção e comportamento dos alunos sem julgamentos, concentrando-se nas evidências do que ocorre em sala. Os professores assistem a vídeos de aulas reais e debatem nos grupos. “Estamos aprimorando o olhar sobre a sala de aula para que possamos desenvolver a equidade, revendo nossa postura para não reforçarmos as desigualdades”, afirma Aretha.
Na atividade do youcubed “Corrida ao 100″, os professores também puderam analisar a si mesmos, tanto no papel de aprendiz como de educador. Nessa vivência, percebem como as perguntas podem ser uma potente ferramenta pedagógica. Não bastam respostas corretas, é preciso entender o porquê delas. Para isso fazem o “papel do cético”, isto é, em vez de se preocupar só com resultado, desafiavam-se a explicar como chegaram à solução. Assim, a partir de uma atividade lúdica pode-se pensar a matemática profundamente. Alguns jogaram com suas famílias após o encontro!
Além das atividades individuais e do trabalho em grupos colaborativos, o curso oferece um fórum de vivências matemáticas no qual os participantes discutem situações-problema. Com o tempo, todos se apropriaram dos debates e fortalecem a comunidade de aprendizagem.
Atualmente, o curso está no terceiro módulo – gestão de sala de aula -, que aprofunda questões como igualdade/desigualdade, equidade/inequidade e diversidade. A proposta é que, ao longo do curso, essas ideias sejam ampliadas. Outro tema deste módulo que chamou bastante a atenção dos participantes foi a importância da relação da escola com as famílias das crianças.
O apoio no uso tecnológico e os temas abordados já têm impactos imediatos, como conta Aretha, que alterou o conteúdo de seus vídeos para se aproximar dos alunos e para que possam ser compartilhados por outros professores. Para Marina, a formação deixará os professores mais preparados para a volta às aulas presenciais. “Não sabemos em que situação nossos alunos estarão. Infelizmente muitos não tiveram acesso à internet e, assim, à escola no período de pandemia e necessitarão de um maior apoio. Precisaremos de mais ferramentas e um outro olhar para enfrentar essas desigualdades.”