Programa Mentalidades Matemáticas é destaque na série de TV ‘Origens’

22 de abril de 2020

Atualizado em: 04/01/2024

Programa da Novo Tempo está disponível em streaming

Existe um cérebro matemático? Por que as crianças têm dificuldade com a matemática? Para responder essas perguntas, a equipe da série “Origens”, da TV Novo Tempo, mergulhou no universo do Programa Mentalidades Matemáticas e produziu dois episódios,“Mindset Matemático” e “Por que é tão difícil aprender matemática?”, para a temporada que trata dos mistérios da matemática.

Entre os especialistas entrevistados estão Jo Boaler, professora da Faculdade de Educação da Universidade Stanford e cofundadora da plataforma Youcubed, Jack  Dieckmann, diretor de pesquisa do Youcubed, e Claudia Siqueira, diretora do Instituto Sidarta.

O “Mindset Matemático” aborda o mito do cérebro matemático, a ansiedade causada pela pressão dos testes cronometrados e investiga os estudos para melhorar a relação dos estudantes com a disciplina. Logo no início, a palavra “mentalidade” (mindset, em inglês) é definida como “o que uma pessoa pensa, suas crenças, suas disposições psíquicas e morais” e que, se moldada ao longo do tempo, e cultivada de forma fértil e maleável, pode ser determinante para uma vida equilibrada.

“Se você tem uma mentalidade de crescimento, acredita que pode aprender qualquer coisa. A mentalidade fixa significa que duvida sobre o que pode aprender e não acredita que pode aprender e melhorar. Essa ideia era necessária à matemática mais do que em qualquer outra matéria, muitas pessoas pensam que não podem fazer contas porque não têm um ‘cérebro matemático’”, explica Jo Boaler.

Para passar mensagens de mentalidade de crescimento, Jo e equipe desenvolveram uma abordagem de ensino de matemática aberta, visual e criativa, que valoriza diferentes formas de pensar. Ao integrar esses conceitos, a professora afirma que os alunos se transformam e começam a ver a matemática como uma disciplina interessante. Essa integração é chamada de Mentalidades Matemáticas.

Para Jack Dieckmann, a abordagem combina vários campos da ciência sobre a aprendizagem da matemática, como descobertas da psicologia, com o trabalho de Carol Dweck, e pesquisas em neurociência sobre como funciona o cérebro, como se adapta e reage com o medo, formando uma rede interconectada de ideias.

No programa, Jo Boaler critica a valorização da memorização e da rapidez no ensino. Quando as pessoas se sentem ansiosas, uma parte importante do cérebro para aprender fatos matemáticos, a memória operacional, é comprometida. “O cérebro precisa de conexões para aprender. Não basta decorar, é preciso aprender”, afirma. Estudos de neurociência concluíram que das cinco áreas cerebrais ativadas quando calculamos, duas são visuais. Assim, ao trabalhar com números e imagens, aumentam as conexões e melhora a aprendizagem.

Essas áreas visuais do cérebro podem ser ativadas precocemente. A neurocientista ouvida no episódio, Carla Tieppo, afirma que a memória operacional começa a se desenvolver a partir de 6 ou 7 anos. Mas desde muito pequenos podemos dar às crianças noções da relação espacial dos objetos, como se somam e se relacionam no espaço. “A automatização dos processos vai ocorrer durante toda vida. Por isso é importante ter uma boa base da ideia de concretude das quantidades para depois entender o processo de abstração”, diz.

A professora Jo Boaler fala, em entrevista, sobre a abordagem Mentalidades Matemáticas.

Meninas aprendem com profundidade

Se não existem cérebros matemáticos, por que há mais homens do que mulheres nas ciências? O programa afirma que as mulheres são apenas 5% dos estudantes de cursos superiores de matemática, em média. Dieckmann cita pesquisa de Jo Boaler sobre o tema. Para as meninas, a matemática era desinteressante porque as ideias não estavam conectadas. Em outras disciplinas, elas podiam se expressar, ver conexões. “Não é questão de capacidade, mas de experiência satisfatória”.

Claudia Siqueira, diretora do Instituto Sidarta que aplica o Programa Mentalidades Matemática no Brasil, diz que professores precisam conhecer novas pesquisas em educação para evitar reproduzir a escola do século 17, onde mulheres não se aproximavam da ciência. “As meninas se sentem inibidas para entrar na área de exatas e acabam optando por medicina porque acham que não é seu território”, afirma.

O episódio “Mindset Matemático” também trata dos benefícios do erro e como ele faz parte do processo de aprendizagem. E cita o teorema de Fermat, que demorou mais de 300 anos para ser resolvido. Muitos erraram, mas a busca pela solução gerou a teoria algébrica dos números, por exemplo. Na mentalidade de crescimento, os erros nos fazem crescer, nos tiram da zona conforto. Como diz Jo Boaler, “erros fazem nosso cérebro mais ativo, a dificuldade é boa, incentiva o esforço e produz mais conexões no cérebro”.

Francis Su, doutor em matemática, conclui que prefere a ideia de virtude à de talento, porque a virtude se constrói, enquanto o talento é algo que você tem ou não. “Devemos comemorar quando a criatividade desenvolve perseverança”. Su mudou sua prática de ensino ao se perguntar se estava avaliando a criatividade, o esforço, alegria, a beleza da matemática.

Por que é ‘difícil’ aprender matemática?

Outro episódio da série “Por que é tão difícil aprender matemática?” investiga a relação dos alunos com a disciplina, métodos de ensino e o papel dos professores. Jack Dieckmann também é entrevistado e destaca que muitas vezes a matemática é distorcida na escola por causa da cobrança pela memorização. Para ele, fatos e procedimentos são enfatizados, mas não há um entendimento dos alunos, que não se conectam com a matéria. “Quando não entendemos algo, acho normal se afastar daquilo que não nos faz bem”, pondera.

Eugenia Cheng, doutora em matemática, enfatiza que a matemática é interpretação, e essa é uma habilidade muito útil para a vida. “Para ensinar uma matemática aberta e criativa, você precisa de um professor que também aprendeu assim. É preciso ter confiança para dar uma aula em que não se controla o que vai acontecer, porque os alunos podem ir a qualquer direção”, aponta.

Para Su, matemática é exploração, é um olhar para apreciar grandes ideias e que podem transformar o mundo e seres humanos. “As pessoas a veem como uma ferramenta para fazer outras coisas, mas ela pode ter um fim em si mesma, todos devem ter a alegria de experimentar, é uma matéria alegre, é isso que tem que mudar.”

Mas de onde vem esse medo da matemática? Para Claudia Siqueira, os alunos acabam acreditando que não são capazes de aprender devido a experiências ruins. Maria Ignez de Souza, doutora em matemática e estatística, concorda. “Se eu tenho um excesso de fracasso, qual minha decisão? Não quero mais isso, e passo a odiar a matéria, o professor, o livro”. Para Ignez, esse fracasso se confirma com a tendência de muitas pessoas escolherem uma carreira não pela vocação, mas uma profissão em que elas acreditam que a matemática não seja necessária.

Jack Dieckmann termina o episódio resumindo o Mentalidades Matemáticas. “A matemática deve ser aberta criativa e visual. Existem várias maneiras de pensar um problema, usando a geometria ou a álgebra; como posso visualizar, expressar as ideias em cores, padrões, desenhos? Se em uma classe os grupos resolvem o mesmo desafio de maneira similar, a tarefa não foi muito aberta ou criativa. Se um professor olha para a resolução de um grupo e percebe que nunca pensou dessa maneira, esse é um sinal de sucesso”, diz.


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