Rótulo de ‘superdotado’ pode limitar desenvolvimento de estudantes

30 de abril de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Ao contrário do que muitos pensam, ser rotulada como uma criança superdotada pode ser devastador. Muitos de nós já tivemos colegas “muito inteligentes” na escola, que aparentam aprender tudo com enorme facilidade e sempre tiram boas notas. Alguns chegam a ser considerados “gênios”, ou “superdotados”. Mas esse ótimo desempenho escolar não é garantia de sucesso na vida ou êxito acadêmico eterno. Para Jo Boaler, professora da Faculdade de Educação da Universidade Stanford, essa percepção de “inteligência” como algo inato e o rótulo de “superdotado” podem prejudicar mais do que ajudar. 

Esse é o tema do curta-metragem “Repensando a ideia da Superdotação”, de Jo Boaler em parceria com a cineasta Sophie Constantinou. No vídeo, estudantes de Stanford relatam a experiência de serem considerados superdotados, após testes feitos no ensino fundamental nos EUA. A partir do resultado, passaram a estudar em programas especiais. Os 12 entrevistados falam sobre as vantagens, mas também sobre os ônus que enfrentaram. O principal deles é não saber enfrentar dificuldades e não poder errar. Se nasceram superinteligentes e não conseguem resolver um exercício, pensam que o dom os abandonou. Para corresponder ao rótulo e suas expectativas, escondiam dúvidas e problemas.

O problema da criança “superdotada”

Em seu livro Mente sem barreiras, Jo Boaler conta história da estudante Susannah. Na infância, era uma das melhores alunas de matemática e foi cursar um programa avançado. Sempre ouvira que tinha um “cérebro matemático” e um talento especial. Ao entrar em Stanford, o cenário mudou. No segundo ano, enfrentou problemas em uma matéria, passou a acreditar que não tinha mais um cérebro especial e abandonou o curso. Susannah não sabia que as dificuldades são importantes para o desenvolvimento cerebral.

Para Boaler, inteligência se desenvolve com o esforço. “Crescemos no mundo do cérebro fixo, que julga com base na sua inteligência. É importante dizer aos estudantes que todos estão em uma jornada de crescimento e não há nada fixo neles, seja um dom ou uma deficiência”, define Boaler em trecho de Mente sem barreiras.

Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/fotoemotions-872019/?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=1618377">H. B.</a> por <a href="https://pixabay.com/pt/?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=1618377">Pixabay</a>
Imagem: Pixabay

Para a pesquisadora, vivemos a era do crescimento cerebral. Um dos conceitos do programa Mentalidades Matemáticas é a distinção entre mentalidade fixa e mentalidade de crescimento. Na fixa, a pessoa acredita que sua inteligência não muda e não pode desenvolvê-la ao longo dos anos; na mentalidade de crescimento, a dedicação é a chave para quem acredita em seu próprio desenvolvimento, e que é possível aperfeiçoar a inteligência com esforço e estudo. Pesquisas em neurociência apontam que isso é decisivo para o crescimento do cérebro.

O peso do rótulo

“Quando você é valorizado por ter um cérebro que não desenvolveu, apenas nasceu com ele, você se torna avesso a qualquer obstáculo e começa a acreditar que as áreas onde encontra dificuldade não são pra você”, afirma Jo Boaler. Ela cita o trabalho do pesquisador Anders Ericsson, que estudou QI e empenho durante décadas e concluiu que pessoas consideradas geniais, como Einstein, Newton e Mozart, “se fazem, não nascem feitas”, e seu sucesso é resultado de um esforço extraordinário. 

“A mensagem de que algumas pessoas nascem com algo que os outros não podem alcançar, ao meu ver, é prejudicial para todos”, considera Jo Boaler no livro. “Mulheres têm de se esforçar muito para ser bem-sucedidas. Ao passo que [a ideia de que] homens são naturalmente brilhantes é uma noção presente em nossa sociedade.”

Jo Boaler relata ainda uma experiência pessoal de quando tinha 16 anos e teve um resultado ruim em um simulado de física. Ao todo, oito alunos – quatro meninos e quatro meninas (entre elas Jo) – haviam tirado a nota mínima. Para o professor, entretanto, os meninos não haviam se esforçado enquanto as meninas haviam tido as melhores notas possíveis. Ele inscreveu os meninos no exame superior e as meninas no inferior. Jo Boaler contou a sua mãe, e ela reclamou à direção da escola, que a autorizou a fazer o exame superior em física. Desafiada, estudou. Resultado? Nota A. Mas quantas alunas podem ter encontrado professores semelhantes e tido suas trajetórias limitadas?

Educar sem rotular, sem criar barreiras ou limites: esse é o desafio. Uma mente livre em constante desenvolvimento e crescimento é o que desejamos de nossos alunos. Todos têm potencial para aprender em altos níveis. O que precisa mudar urgentemente é a forma de ensinar.


Mentalidades Matemáticas

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