‘Conversas numéricas’ despertam a flexibilidade da matemática

07 de abril de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Quanto é 18 vezes 5? Esqueça lápis e papel e faça o cálculo mentalmente. Como você chegou ao resultado? Faça esse desafio a um amigo. Ambos alcançaram a mesma resposta, mas com estratégias diferentes? Há muitas formas de fazer esse cálculo e cada um pode ter a sua. A matemática é uma ciência exata e também flexível e criativa. É o que mostram as Conversas numéricas, atividade do programa Mentalidades Matemáticas.

As Conversas numéricas foram desenvolvidas pelas educadoras Ruth Parker e Cathy Humphreys, que publicaram livro homônimo, lançado no Brasil no ano passado. Elas desafiam os estudantes a fazer cálculos mentalmente em sala de aula. Quando a classe tem as respostas, a professora pergunta os resultados e escreve na lousa as estratégias dos estudantes para atingi-los. Numericamente e visualmente, todas as alternativas são descritas, inclusive os diferentes caminhos para o mesmo resultado e as respostas incorretas. Juntos, professora e alunos investigam cada uma e decidem qual a solução certa. 

Conversas Numéricas
Exemplo de atividade Conversas Numéricas, do programa Mentalidades Matemáticas

“Os alunos usam estratégias visuais, símbolos, cores, formas, têm autonomia para decidir sua estratégia e como expressá-la. É uma atividade muito potente, que acessa os estudantes de uma forma muito transformadora”, conta Indira Vânia Pereira da Silva, professora de 3º a 5º ano do ensino fundamental em uma escola do SESI (Serviço Social da Indústria), em Santos (SP). 

Aplicando o Mentalidades Matemáticas em sala de aula, Indira relata que após um período de adaptação – em que os estudantes perdem o medo de errar e entendem como parte importante do processo de aprendizagem – as Conversas numéricas são a atividade que desperta maior engajamento. As crianças têm vontade de se posicionar, explicar suas ideias e percebem a matemática como uma disciplina libertadora. 

Indira diz que o exercício se transformou em um hábito, praticado de duas a três vezes por semana, tomando no máximo 20 minutos de cada aula. Começaram com uma adição simples e a cada semana aumentam a dificuldade. Para ela, os alunos compreendem que a matemática faz parte de tudo e fazem conexões entre a disciplina, a abordagem e a vida cotidiana. “As crianças veem diferentes estratégias para um desafio tanto na escola quanto na vida, que existe uma possibilidade infinita de caminhos. É uma fala que foi apropriada”, afirma.

A professora, que conheceu o Mentalidades Matemáticas ao participar do PED (Programa de Especialização do Docente) em 2018, afirma que gosta de registrar suas aulas em áudio ou vídeo. Assim, consegue enxergar erros e acertos, repensar sua prática e sobretudo perceber se agiu como mediadora, com intervenções pontuais que permitiram uma construção coletiva de conhecimento. Ela também participou do Curso de Férias do Instituto Sidarta, realizado em Cotia (SP), em janeiro de 2020.

Conversas numéricas

‘É base fundamental para desenvolver o aprendizado em matemática’, diz Jo Boaler

No vídeo Conversas numéricas, Jo Boaler, professora da Faculdade de Educação da Universidade Stanford e cofundadora da plataforma Youcubed, ressalta que o resultado das Conversas numéricas não é o mais importante. O mais interessante é investigar o método de cada aluno, pois além de reforçar a aprendizagem, desenvolve o senso numérico – a capacidade de interagir e interpretar os números. 

“É uma maneira de aprender senso numérico, incentivar os estudantes a quebrar os números, decompô-los e reagrupá-los. É base fundamental para desenvolver o aprendizado em matemática, ajuda no pensamento algébrico e suas propriedades associativas e distributivas”, afirma Boaler. Além disso, como a pesquisadora afirma no artigo Fluência sem medo, pesquisas concluíram que para fortalecer a fluência com números é recomendado desenvolver o senso numérico ao invés de memorizá-los.

O assunto também é abordado por Boaler em seu livro Mente sem Barreiras, onde ela conta a reação de uma pessoa ao conhecer a atividade: “Não que eu não soubesse que era possível fazer isso com os números, mas de certa forma achava que isso não era permitido”. Ela cita outros exemplos de estudantes que sentem-se aprisionados a maneira tradicional de fazer cálculos. A professora afirma que fica evidente o dano feito na educação de matemática. As pessoas pensam que a flexibilidade numérica não é permitida e que a disciplina envolve apenas seguir regras.  

Jo Boaler destaca que as Conversas numéricas podem ser realizadas com grupos heterogêneos, alunos do ensino fundamental, médio, universitário, CEO de grandes empresas. “Todos realmente se engajam à atividade com igual interesse e emoção, e vejo o entusiasmo ao ver o mesmo desafio resolvido de tantas formas diferentes”, diz.


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