Conectar as grandes ideias matemáticas torna a BNCC mais eficiente

Atualizado em: 22/12/2023

Webinar da série“Multiplicando Saberes” debateu estratégias para aplicar o currículo nas aulas de matemática

A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) não precisa ser uma camisa-de-força para o planejamento do ensino de matemática. Chamar atenção para as grandes ideias que ligam os elementos curriculares ajuda a focar o ensino na compreensão do aluno. Esses foram os principais pontos debatidos no webinar “Mentalidades Matemáticas e a BNCC”, que aconteceu na quinta-feira (12), na página do Facebook e no YouTube do Mentalidades Matemáticas.

Maitê Salinas, formadora do Mentalidades Matemáticas, enfatizou a importância das oportunidades dos alunos de chegarem às suas próprias conexões entre os elementos. Henrique Martins, professor do Instituto Federal de São Paulo, louvou a “insubordinação criativa”, com a autonomia do professor para reorganizar o currículo da forma que funcionar melhor didaticamente. O professor de matemática Natan Onoda lembrou da importância de os alunos discutirem em grupo suas conclusões. E Jack Dieckmann, diretor do Centro de Pesquisa Youcubed da Universidade Stanford, lembrou que o ensino fragmentado, focado em listas de conteúdos, prejudica a compreensão até dos alunos de melhor rendimento.

“Não é suficiente o professor dizer que toda a matemática é conectada e depois focar em um procedimento hoje e em outra coisinha amanhã”, disse Dieckmann. “Isso não está alinhado com a ideia de conexão das grandes ideias, tudo tem que estar conectado no sistema.”

Mas o que são essas grandes ideias? Segundo os participantes, são os temas que “amarram” os elementos do currículo. A organização dos números em “famílias”, por exemplo, pode unir a ideia de proporções e as equações. Já a ideia de flexibilidade numérica pode ligar as equações e a noção de probabilidade. 

Como fazer isso, porém, depende de cada professor. Não existe uma receita para isso, além de não tratar os parâmetros curriculares como uma lista que deve ser seguida em sua ordem. “Essas listas de tópicos infelizmente não orientam nem o aluno e nem o professor para o rico terreno da matemática que estão explorando”, disse Dieckmann. 

Henrique Martins lembra que essa “insubordinação criativa” com o currículo está amparada pela própria base curricular. “A BNCC sugere que não seja seguido apenas o arranjo possível das unidades temáticas, mas que outras formas de organização também são viáveis”, afirmou. Como exemplo, ele mostrou um mapa conceitual de grandes ideias construído por professores em uma oficina do Mentalidades Matemáticas. 

Durante o webinar, Maitê propôs ao público um exercício que trazia uma série de figuras para que se deduzisse o que elas tinham em comum e mostrou um vídeo em que um grupo de estudantes resolve a atividade. A profundidade do raciocínio das crianças ao resolver o problema ilustra a importância do trabalho de equipe. 

“Nossa intenção mais profunda é sempre chegar a essas grandes ideias”, diz Maitê. “Mas ao longo da atividade entram muitas outras intenções, como o fortalecimento do nosso aluno, o cuidado com ele, em vez da valorização da velocidade.”

A série de webinários “Multiplicando Saberes” é promovida pelo Instituto Sidarta em parceria com o Itaú Social e com apoio do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Desde julho, Jack Dieckmann, acompanhado de profissionais do Mentalidades Matemáticas no Brasil, apresentaram evidências da abordagem e práticas usadas em sala de aula. O próximo encontro será em 10 de dezembro. Não perca!