‘Conecte-se à revolução matemática!’, diz Jack Dieckmann

07 de janeiro de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Professor de Stanford fala sobre a pesquisa que fará no Curso de Férias do Programa Mentalidades Matemáticas

Jack Dieckmann, diretor de pesquisa da plataforma YouCubed da Universidade Stanford, esteve no Brasil para acompanhar o Curso de Férias do Programa Mentalidades Matemáticas, que aconteceu de 6 a 17 de janeiro de 2020. Com a participação de 100 alunos de duas escolas municipais de Cotia (SP), o objetivo do curso é ensinar matemática de uma forma inovadora para os estudantes. 

Esta será a terceira visita de Dieckmann ao país, que participou das duas edições do Seminário Mentalidades Matemáticas em 2018 e 2019. O pesquisador estuda os efeitos das atividades do YouCubed em aprendizagens, atitudes e desempenhos de alunos e professores nos EUA, Brasil e Escócia. Antes de ingressar no YouCubed, Jack trabalhou na SCALE, centro de Stanford especializado em avaliações equitativas. Ele também participou da formação dos professores que lecionarão durante o Curso de Férias.

Na entrevista, Jack Dieckmann fala da importância da mentalidade de crescimento na sala de aula, os estudos de neurociência sobre o aprendizado em matemática, indica a melhor maneira para começar a usar o Youcubed e conta sobre a pesquisa que será realizada durante o Curso de Férias, em que supervisionará a coleta de dados e prestará suporte técnico aos professores.

Blog Mentalidades Matemáticas: Como o Mentalidades Matemáticas lida com o medo e o mito de que a matemática é para poucos?

Jack Dieckmann: Há algum tempo acumulamos evidências da psicologia de que nossas crenças sobre nossa própria inteligência afetam nosso aprendizado e desempenho. De um modo geral, uma mentalidade matemática fixa diz que apenas alguns alunos são bons em matemática. Uma mentalidade de crescimento, no entanto, diz que cada pessoa pode melhorar com esforço e persistência. Infelizmente, a importante descoberta da mentalidade de crescimento foi um tanto atenuada, e traduzida simplesmente em discursos motivacionais para os alunos nas escolas. Mas isto não é o suficiente. Também precisamos mudar os membros da escola que reforçam continuamente a “mentalidade fixa”, como a prática em sala de aula de enfatizar a velocidade em vez de um pensamento cuidadoso ou evitar desafios por medo de cometer erros. A abordagem do Mentalidades Matemáticas fornece um currículo desafiador, atividades abertas, vídeos em sala de aula, jogos de matemática e oportunidades de aprendizado para professores, que reforçam uma mentalidade de crescimento em Matemática.

Blog MM:  Em entrevista, o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor do best-seller “Sapiens: uma breve história da humanidade”, afirmou que “Hoje todos aqueles que vivem no planeta falam apenas uma língua: esta língua é a matemática”. O senhor concorda?


JD: Em seu livro, Harari escreve sobre a necessidade da invenção da escrita, dos números e da matemática básica para controlar impostos, dívidas e outras necessidades administrativas de sociedades cada vez mais complexas. E vemos essa evolução em nossa sociedade moderna na maneira como analisamos e codificamos nosso conhecimento em expansão na linguagem da matemática. Com o advento dos computadores digitais, agora vemos a ciência de dados emergindo com as novas competências necessárias para gerenciar nossas vidas. À medida que a necessidade da sociedade evolui, nossas escolas continuam a ensinar a matemática do século XIX, concentrando-se em procedimentos rotineiros e cálculos tediosos. Eu diria que a análise da Harari nos dá uma forte justificativa para a necessidade de nosso currículo escolar de matemática evoluir nesses tempos de mudança.

Blog MM:  O que as pesquisas apontam sobre o uso de imagens e desenhos no ensino de matemática?

JD: Jo Boaler (fundadora do Youcubed e autora do livro “Mentalidades Matemáticas”) junto com outros autores escreveram um artigo maravilhoso que sintetiza as últimas pesquisas da neurociência: “Ver para entender: a importância da matemática visual para o cérebro e o aprendizado”. Convido os leitores a ler este artigo, que se baseia em muitos estudos que mostram como as vias visuais estimulam o cérebro no processo de aprendizado de matemática. A beleza deste artigo é que não são apenas relatórios de pesquisas publicadas, ele também sugere atividades para que essas pesquisas possam ser aplicadas nas salas de aula.

Blog MM: Quais os objetivos de sua visita ao país? Conte um pouco da pesquisa que será realizada.

JD: Tenho o prazer de ser convidado ao Brasil, mais uma vez, para acompanhar a aplicação e adaptação de nossa abordagem de Mentalidades Matemáticas. Minha visita atual faz parte de um estudo de validação que estamos realizando com o Colégio Sidarta e outros parceiros de pesquisa para estudar as duas semanas do Curso de Férias. Realizamos este programa escolar de verão em 2015 na Universidade Stanford, com excelentes resultados de aprendizado. E agora, queremos ver como essa abordagem e materiais podem ser adaptados a outras cidades nos EUA e no Brasil. O Curso de Férias brasileiro ocorrerá em janeiro de 2020. Durante a minha visita, ajudarei a supervisionar a coleta de dados e prestarei suporte técnico aos professores envolvidos nesse esforço.

Blog MM: O senhor tem se dedicado pessoalmente ao treinamento de professores e participando de oficinas sobre o Youcubed no Brasil. Por que o trabalho feito no Brasil é tão relevante para o Youcubed?

JD: O Youcubed é um centro de estudos da Universidade Stanford e, como tal, sempre dialogou internacionalmente com países que veem a necessidade de uma mudança de paradigma na educação matemática. Jo Boaler, nossa fundadora, viajou por todo o mundo, compartilhando suas pesquisas, recursos e inspiração. Nossa conexão com o Brasil começou com o Instituto Sidarta, que tem uma longa tradição de inovação e práticas baseadas em evidências de diferentes países. As lideranças do Sidarta estudaram sobre o Mentalidades Matemáticas e iniciamos um diálogo que levou a visitas entre equipes nos EUA e no Brasil, e agora a essa pesquisa conjunta. Quando viemos para uma visita no ano passado e vimos professores e alunos profundamente envolvidos nas tarefas do Youcubed, queríamos entender e apoiar esse tipo de envolvimento nas escolas de todo o Brasil. Nos vemos como parceiros de aprendizado. O Brasil está em um momento tão único em sua história educacional, com padrões de conteúdo nacional e repensando as experiências matemáticas que os alunos devem ter. É emocionante estar envolvido neste momento histórico.

Blog MM: Um dos focos de pesquisa e dos cursos do Mentalidades Matemáticas são crianças entre 10 e 11 anos. Porque essa faixa etária?


JD: Nosso primeiro Curso de Férias, em 2015, foi com alunos do 6º ao 8º ano. Mas em nosso estudo de validação em 2019, várias escolas estavam interessadas em trabalhar com estudantes um pouco mais jovens. Uma das razões é a intervenção anterior, para que os alunos tenham a chance de experimentar uma matemática aberta, criativa e mais visual nos primeiros anos. Apoiamos isso, especialmente porque sabemos que mesmo os alunos mais jovens começam a acreditar nos mitos sobre matemática. De fato, no site Youcubed, temos atividades matemáticas para alunos do ensino infantil à na universidade!

Blog MM: Como o senhor recomendaria o Youcubed para quem ainda não o conhece?

JD: Existem várias maneiras de vivenciar o Mentalidades Matemáticas. Eu sugeriria explorar o site e assistir aos vídeos. Em seguida, tente uma das muitas atividades divertidas de matemática. Melhor ainda seria tentar junto a um colega ou um membro da família. A princípio, parecerá muito diferente. Você pode se sentir frustrado ou com medo se uma solução demorar um pouco. Mas respire. Não se preocupe em estar errado. Quando você está errado, esse é realmente um ótimo sinal, porque significa que você está prestes a aprender algo novo, e isso é poderoso. Mantenha o controle de suas idéias em um caderno, use lápis de cor para procurar padrões. Depois de um tempo, você verá que esse desafio é emocionante ao invés de assustador. Visite o Mentalidades Matemáticas para se inspirar e se conectar a uma comunidade crescente de pessoas que estão prontas para a revolução matemática!

Blog MM: Explique como o Mentalidades Matemáticas pode influenciar os alunos na relação com as outras disciplinas.

JD:  Esta é uma pergunta interessante. Por um lado, as pesquisas mostram que as pessoas podem manter uma mentalidade de crescimento em uma disciplina e uma mentalidade fixa em outra. Mas, em nossa experiência, quando os alunos se sentem confiantes em matemática, eles tendem a se sentir mais confiantes em outras matérias também. Isso pode ser porque a matemática é uma fonte de trauma e sensação de incapacidade. Quando isso muda, os alunos podem sentir que também podem dominar outras disciplinas. Mas esta é uma questão empírica e parte de nossa pesquisa em andamento.

 


Mentalidades Matemáticas

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