Ensino inovador da Matemática antecipa volta às aulas em Minas Gerais

Educadoras e educadores de Vespasiano fazem imersão em abordagem aberta, criativa, visual e colaborativa da disciplina

23 de fevereiro de 2023

Atualizado em: 22/12/2023

Você toparia voltar à escola uma semana antes do fim das suas férias? E se fosse para fazer um curso de matemática? Pois 42 educadoras e educadores e 61 estudantes da rede de Vespasiano toparam essa proposta. As aulas na rede municipal estavam previstas para começar no dia 6 de fevereiro, mas educadoras e educadores de 19 escolas e da Secretaria Municipal de Educação toparam encurtar suas férias e retomar o trabalho no dia 23 de janeiro por um bom motivo: participar do curso Docentes Mentalidades Matemáticas (DoMM), uma imersão na abordagem inovadora de ensino da matemática adotada pela Secretaria de Educação de Vespasiano desde o início de 2022. 

Mais de 60 estudantes participaram do DoMM, em Vespasiano (MG). Foto: André Seiti

E por que um curso de imersão para educadoras e educadores? “A sala de aula é um ambiente muito solitário. Este programa de imersão, no modelo de residência, é muito mais rico porque a comunidade educadora se junta para ajudar docentes a progredir no seu processo de aprendizagem”, explica Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.

Em 2022, de março a dezembro, mais de 180 docentes da rede municipal participaram da formação Mentalidades Matemáticas, em formato remoto. Na semana de 23 a 27 de janeiro, as educadoras e educadores vivenciaram presencialmente a abordagem, em uma imersão de cinco dias, dividida em duas etapas diárias. Pela manhã, as educadoras e educadores exploravam com as formadoras do Programa Mentalidades Matemáticas conteúdos ligados à neurociência e atividades matemáticas. À tarde, 61 estudantes do 5° ano fizeram atividades abertas, criativas e visuais com as professoras, que colocaram em prática os conteúdos aprendidos pela manhã. 

O que é residência pedagógica?

“Quando pensamos em residência, logo vem à nossa mente profissões ligadas às áreas da saúde. Mas, para a educação, a residência também é muito importante, pois é o momento de relação entre teoria e prática, de experimentar e aprender colaborativamente. Muitas professoras e professores se queixam que se sentiram despreparadas(os) ao final dos cursos de licenciatura. E o dano que podemos causar em nossas e nossos estudantes pode ser tão grande quanto o dano causado por um profissional da saúde. Por isso é essencial que cada vez mais na formação regular ou continuada docente a residência esteja presente”, explica Marina França, coordenadora pedagógica do Programa Mentalidades Matemáticas. 

E ninguém se arrepende de ter voltado ao trabalho mais cedo. “Eu estou aqui porque já tinha tido a experiência maravilhosa de participar do curso on-line do Mentalidades Matemáticas ao longo de 2022, e cresci muito”, afirma Adenilde Vieira Barbosa, da Escola Municipal Senhor do Bomfim. “Eu quero multiplicar esse conhecimento que estou adquirindo junto com os alunos, para fazer essa construção”, conclui. 

Como é na prática uma matemática mais aberta, criativa, visual e colaborativa 

A abordagem MM busca uma aprendizagem matemática mais aberta, criativa, visual e colaborativa. Nessa abordagem o erro não é um problema, pelo contrário, como mostram os estudos mais recentes da neurociência, o erro é um recurso muito valioso para a aprendizagem de qualquer disciplina. 

Durante o momento de regência no DoMM, a professora Elizabeth Araújo Lopes propôs para sua turma a atividade “Conversa com Pontos”. Ela expôs no quadro, por 5 segundos, uma imagem (ver figura ao lado) com determinada quantidade de pontos, para as crianças fizessem quantos pontos havia na figura. A regra: não vale contar os pontos um a um. 

Algumas crianças viram 11 pontos, outras viram 12 e outras, ainda, viram 9. A professora pediu que descrevessem como haviam agrupado os pontos para realizar a contagem. Descrever o próprio pensamento para que os demais entendam é uma importante e rebuscada habilidade matemática. 

Após a descrição dos agrupamentos a professora pede que “traduzam” suas ideias para expressões numéricas. Pedro contou 11 pontos e criou a seguinte expressão: 4 + 3 + 4. Luiza viu 12, 4 grupos de 3, e criou a expressão 4 x 3, mas que também poderia ser 3 + 3 + 3 + 3. Enzo achou 9, 2 linhas de 4 e um ponto ao meio, cuja expressão ficou 2 x 4 + 1 Depois, Elizabeth mostrou novamente a figura, e perguntou à turma se alguém reavaliou as ideias que haviam sido registradas no quadro. 

A reação de Enzo foi imediata: “Ah, fiz errado!” Elizabeth, na mesma hora, reforçou um princípio do Mentalidades Matemáticas: “O erro é muito importante para entendermos o raciocínio de cada um e pensarmos profundamente sobre a matemática. Você pode explicar onde errou?”. Então, a turma toda pode refletir junto sobre o erro e testar possibilidades. Ao final, parabenizou Enzo por compartilhar com a turma a forma de pensar. “O que vocês aprendem agora à tarde, aprendemos de manhã. Passamos pelo mesmo processo que vocês, cometemos erros e são eles que nos ajudam a pensar de forma mais profunda”, contou ela.

Revolução na prática docente

A secretária de Educação do município, Laís de Castro Brant, ressalta os impactos que o MM já causa nas salas de aula de Vespasiano. “As professoras e professores estão alterando a rotinas de trabalho. Fazem atividades mais dinâmicas, levam as crianças para fora da sala, organizando espaços diferentes, com jogos e mais interação, as crianças são mais protagonistas da aula. Elas explicam aos colegas, não têm medo de falar do erro. E isso está transformando a prática”, afirma a gestora. 

O investimento na formação dos docentes é fundamental para melhorar os índices de aprendizagem das e dos estudantes. De acordo com o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), apenas 10% das e dos estudantes mineiros que terminam o Ensino Médio alcançam um nível satisfatório de aprendizagemem Matemática. No plano nacional, só 5% saem da escola com um bom entendimento da disciplina. 

“A abordagem Mentalidades Matemáticas traz mensagens muito poderosas, inclusive para cenários como o nosso aqui no Brasil, marcados por desigualdades educacionais tão grandes, que não têm diminuído ao longo das décadas e já começam no 5° ano”, ressalta Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social. “A matemática, com as condições adequadas, com esforço e persistência, é uma área do conhecimento que pode ser aprendida por toda criança e adolescente”, conclui Patrícia.

É cada vez mais importante que o país invista e desenvolva políticas públicas voltadas para maior formação e aprendizagem na matemática. “Tão essencial quanto o fortalecimento da comunidade docente é o desenvolvimento de políticas de estado que criem as condições adequadas para as e os docentes e para a aprendizagem matemática” ressalta Isabel Cortellini, coordenadora de projetos do Programa Mentalidades Matemáticas.

A abordagem Mentalidades Matemáticas (MM) foi desenvolvida pela Profa Jo Boaler cofundadora do Centro de Estudos Youcubed, da Universidade de Stanford, e tropicalizada para a realidade brasileira pelo Programa Mentalidaded Matemática do Instituto Sidarta, em cocriação com educadoras e educadores de diversos lugares do país. Em Vespasiano, o Programa é uma realização do Itaú Social em parceria com a Prefeitura do município.


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