Neurociência comprova a importância da matemática visual

04 de março de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Contar nos dedos não é um problema. Abordagem com imagens eleva autoconfiança e compreensão profunda dos alunos

Ainda há quem diga que é errado usar os dedos para fazer contas, e que a matemática visual é indicada apenas para os anos iniciais da escola, como se fosse apenas uma fase introdutória. Para Jo Boaler, professora da Universidade Stanford e cofundadora do Youcubed, essa e outras crenças são falsas. Seus estudos sobre aprendizagem e neurociência demonstram que a “matemática visual” ajuda os alunos a ganhar autoconfiança e a ter acesso a compreensões novas e profundas.

Para desmitificar o uso dos dedos na aprendizagem de matemática, por exemplo, Jo Boaler se apoia na neurociência. Os pesquisadores Ilaria Berteletti e James R. Booth investigaram a área somatossensorial do cérebro, que lida com a percepção e a representação dos dedos. Eles descobriram que crianças entre 8 e 13 anos têm a área somatossensorial ativada ao receberem problemas complexos de subtração, mesmo sem usarem as mãos para contagem. A mesma área é ativada em cálculos mais complexos. 

Os neurocientistas recomendam que as escolas – em vez de reprimir – incentivem a identificação dos dedos. Para eles, o desenvolvimento do cérebro no aprendizado de matemática passa pela contagem e também no reconhecimento de cada dedo (polegar, indicador, médio, anular e mínimo). Isso não significa contar com os dedos para sempre, mas usar os dedos é crucial para o desenvolvimento cerebral.

Cérebro processa matemática visualmente

A base neurobiológica da cognição matemática envolve uma comunicação complexa e dinâmica entre os sistemas cerebrais da memória, detecção e controle, e das regiões de processamento visual.

Quando solucionamos um problema matemático, envolvemos distintas áreas do cérebro, inclusive as redes frontais (na figura, nas cores vermelhas e roxas), o lobo temporal medial e, acima de tudo, o hipocampo – forma similar a uma ferradura, na área vermelha. Ela ocorre também em dois campos visuais: a ventral e a dorsal.

Estudos em neurociência comprovam que a área do cérebro apresentada na cor verde (parte da via visual dorsal) é estimulada durante exercícios matemáticos em pessoas de qualquer idade. Outro estudo, da Universidade Stanford com crianças entre 8 e 14 anos, aponta que, na fase de crescimento, as crianças desenvolvem parte da via visual ventral, (cor laranja na Figura 1) e o cérebro torna-se mais apto para representar formas visuais numéricas.

Einstein sofreu para transformar pensamento visual em símbolos

Essas pesquisas sobre a importância do pensamento visual para o cérebro provocam mudanças no olhar sobre os estudantes. A escola valoriza a memorização e a rapidez no cálculo. Se um aluno não usa bem os números, mas produz fortes ideias e representações visuais, é enviado às aulas de reforço. 

Como afirma o pesquisador Thomas West, esse poderia ser o motivo por que alguns de nossos maiores cientistas – como Albert Einstein – foram desprezados por seus professores. Einstein dizia que todo o seu pensamento era visual e que ele teve dificuldades para transformar suas ideias em símbolos.

Pesquisas

As pesquisas em neurociência e educação embasam resultados na sala de aula. Jo Boaler coordenou e lecionou um curso de férias com 18 aulas de matemática para estudantes dos 7º e 8º anos nos Estados Unidos tendo como princípio a matemática visual. Ao final, a experiência transformou suas percepções sobre matemática e como eles enxergavam suas potencialidades. Ao fim do ano letivo regular, metade dos alunos apresentou melhora de desempenho. 

Além dos resultados, a matemática visual trabalha pela equidade em sala de aula. Quando uma aula se concentra em números, as diferenças de status entre alunos costumam aparecer. Mas se o conteúdo é visual, elas desaparecem e todos se sentem capazes de opinar. É possível acreditar que a matemática visual contribua para a equidade, ao valorizar formas diferentes de raciocínio, estimular engajamento e desenvolver níveis mais complexos de desempenho.

Jo Boaler faz três recomendações. “Incentivem, celebrem e comemorem as abordagens visuais dos estudantes e desmistifiquem a ideia de que bons alunos de matemática são aqueles que memorizam e calculam bem. Todas as ideias ou conceitos matemáticos podem ser ilustrados ou pensados visualmente”.

Para saber mais sobre a importância da Matemática visual, acesse o artigo de Jo Boaler no Youcubed (link https://www.youcubed.org/pt-br/downloadable/ver-para-entender-pdf/)

 


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