Especialistas analisam evidências para melhorar ensino da matemática

23 de outubro de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Último webinar da série ‘E a matemática com isso?’, mediado por Ya Jen Chang, reuniu Jorge Lira, Claudio Landim e Claudia Petri

A análise de evidências – como os alunos aprendem, como se distribui o aprendizado e em quais condições – é a maior aliada das políticas públicas que visam melhorar a qualidade do ensino de matemática no país. Esse foi um dos pontos centrais do webinar “Educação matemática e políticas públicas”, na quarta-feira (21), no Facebook do Mentalidades Matemáticas. O último encontro da série “E a Matemática com isso?” contou com a participação de Jorge Lira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Claudio Landim, diretor-adjunto do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e Claudia Petri, coordenadora de implementação regional do Itaú Social, e mediação de Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.

Ao abrir o encontro, Ya Jen lembrou que, segundo os dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), desde 2003 é constante a proporção de dois terços dos brasileiros de 15 anos que sabem menos do que o básico em matemática. “Isso é um cenário que precisa ser mudado urgentemente, porque a ausência do raciocínio matemático impede a inserção desses jovens brasileiros na sociedade”, afirmou. Para ilustrar o quanto a economia brasileira perde com esse baixo aprendizado, ela lembrou uma estimativa feita pelo matemático Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, de que profissões com foco matemático poderiam gerar até R$ 1 trilhão para o país

No Ceará, uma maneira criativa encontrada para entender que os estudantes aprendem e descobrir o que é necessário ensinar melhor é capitaneada por Jorge Lira. Ele é responsável pelo Programa Cientista-Chefe em Educação Básica da Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Seu trabalho é o de analisar a fundo os dados de aprendizado dos alunos e localizar os pontos com problemas e que precisam melhorar o conhecimento matemático. 

“Fazemos intervenções em escala piloto, em laboratórios de inovação, e depois de validadas nós as levamos às secretarias [municipais] para aumentar sua escala e capilaridade”, ele conta. Essas ações também coletam dados, num novo ciclo de evidências, para verificar se as intervenções funcionaram. Todas as conclusões são debatidas com professores, para que sejam aperfeiçoadas, e segundo ele isso levou à formação de uma rede de educadores. Os resultados aparecem consistentemente nos indicadores de educação nacionais, onde escolas cearenses sempre têm bons resultados.

Claudio Landim coordena outra máquina de gerar evidências da qualidade do ensino de matemática: a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Nada menos que 55 mil escolas e 18 milhões de alunos do Brasil inteiro participam da competição. Isso gera um banco de evidências que permite comparar a evolução do desempenho de alunos e escolas em matemática, ano a ano e série a série. Isso permitiu que a OBMEP descobrisse que a partir do sexto ano o rendimento das meninas cai em relação ao dos meninos. Vários fatores comportamentais e sociais podem estar envolvidos nisso, e portanto esse foi identificado como um problema sobre o qual é preciso trabalhar.

Mais do que apenas identificar os estudantes com maior grau de aptidão matemática, a olimpíada estimula as escolas que a adotam a melhorar o seu ensino da disciplina. Landim citou uma pesquisa do professor José Francisco Soares, da UFMG, que compara o desempenho na Prova Brasil de escolas muito, medianamente e pouco engajadas com a OBMEP. Segundo o estudo, fatores socioeconômicos à parte, a escola se engajar na olimpíada gera resultados que equivalem a um ano inteiro de ensino da matemática, em comparação com as menos engajadas.

Claudia Petri também observa as evidências para focalizar seu trabalho. Segundo ela, em alguns Estados apenas um a cada 20 estudantes de escolas públicas tem aprendizagem adequada em matemática. Um problema grave que ela aponta é a falta de formação dos professores para um ensino mais eficiente da matemática. Com isso, muitas vezes acabam reproduzindo a maneira como aprenderam várias décadas antes – o famoso “decoreba”.

Com a parceria do Instituto Reúna, o Itaú Social criou o que chama de mapas de foco. Usando a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), eles reuniram especialistas para identificar os principais pontos a serem trabalhados com os professores. “Existe um distanciamento muito grande entre as altas expectativas que a BNCC traz e aquilo que os meninos realmente aprendem”, observa. Para aprofundar esse trabalho, o Itaú Social apoia programas como o OBMEP na Escola e Mentalidades Matemáticas, para ajudar os professores a ensinarem melhor. “O professor precisa acreditar que todos os meninos podem aprender”, disse. 

A série “E a matemática com isso?” foi promovida pelo Instituto Sidarta em parceria com o Itaú Social e apoio do IMPA. A ideia nasceu na pandemia como uma oportunidade de debater e provocar reflexões sobre a matemática presente em diferentes fóruns sociais e seus impactos na sociedade. Temas atuais como ciência de dados, o futuro do mercado de trabalho e diversidade na matemática foram debatidos. E os webinários já tiveram mais de 25 mil visualizações e podem ser assistidos na íntegra no Facebook e YouTube do Mentalidades Matemáticas. 


Mentalidades Matemáticas

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