Errar faz parte do processo de aprendizagem

01 de dezembro de 2020

Atualizado em: 22/12/2023

Saber acolher e valorizar o erro em sala de aula ajuda no desenvolvimento da criança  

Uma das observações mais recorrentes dos professores que aplicam a abordagem Mentalidades Matemáticas é que os alunos apresentam diferentes caminhos para o acerto. As séries de webinários “Multiplicando Saberes” e “E a Matemática com isso?”, promovidas pelo Instituto Sidarta, trouxeram depoimentos de professores destacando este comportamento nas aulas e mostraram vídeos com os estudantes pensando juntos em como resolver os exercícios apresentados. Mesmo quando um aluno conta o processo de raciocínio que levou a um resultado errado, isso enriquece a discussão em sala de aula. A professora assume o papel de mediadora, incentivando a construção de argumentos e o erro faz parte do processo de aprendizagem. 

Essa ideia não é estranha para crianças e adolescentes fora de sala de aula. Nos games, que ocupam horas e horas da atenção de crianças e adolescentes, aprende-se a avançar em um novo jogo por meio de tentativa e erro. A incerteza sobre o próximo passo acaba fazendo parte da diversão, pelo próprio design das narrativas.

Nas formas mais tradicionais de se ensinar matemática, o conteúdo acaba soando como uma lista de procedimentos a serem mecanicamente reproduzidos. Quando isso acontece, a matemática perde o espaço para experimentação e se torna um catálogo de reproduções e acertos. Algo bem diferente do que os matemáticos fazem, como mencionamos no texto do blog “Ansiedade: a matemática não é uma corrida”.

Como essa noção de que a matéria se baseia em “certo” e “errado” é bastante comum, essa matemática robotizada acaba virando uma espécie de castigo em algumas escolas. “Há casos em que professores deixam alunos indisciplinados de castigo no intervalo fazendo exercícios de matemática, e nunca de outras matérias”, lembra João Carmo, doutor em Educação e Líder do Grupo de Pesquisa Análise do Comportamento e Ensino Aprendizagem da Matemática (ACEAM). 

Mentalidade fixa e mentalidade de crescimento

Atitudes como essa só colaboram com a dificuldade de alguns para a disciplina e alimenta a chamada “mentalidade fixa”, conceito que se aplica a pessoas que acreditam que suas qualidades e limitações são características permanentes, não podendo ser aprimoradas. Acolher os erros ajuda a desenvolver a chamada “mentalidade de crescimento”, baseada na certeza de que com esforço e persistência o aprendizado será alcançado. 

Estudos de neurociência demonstram que o cérebro tem plasticidade, ou seja, pode se adaptar a novas maneiras de pensar. Quanto mais o colocamos em ação, testando, tentando diferentes caminhos, usando diferentes recursos – e, sim, errando -, mais conexões neurais são formadas. Ou seja, mais o nosso cérebro “cresce”, não em seu tamanho mas nas conexões internas.

Um estudo do psicólogo Jason Moser mostra a relação entre nossas convicções e a atividade cerebral. Moser investigou os mecanismos neurais em operação no cérebro das pessoas quando cometem erros. Ele descobriu que quando as pessoas com mentalidade de crescimento erravam, apresentavam mais atividade cerebral do que aquelas com mentalidade fixa. O cérebro dos que acreditavam em sua capacidade de melhorar agiu de maneira diferente diante do erro em relação ao cérebro dos que não tinham a mesma convicção. O estudo também descobriu que indivíduos com mentalidade de crescimento tinham maior consciência dos erros do que aqueles com mentalidade fixa; portanto, eles eram mais propensos a voltar e corrigir seus erros.

“Não vamos conseguir fazer tudo o que se visa hoje em dia com provas e cultura da resposta única”, disse Diana Laufenberg na TED Talk “Como aprender? Com os erros”. Ela leciona em uma escola voltada para a aprendizagem moderna, a Science Leadership Academy, na Filadélfia. 

Segundo ela, com a internet, limitar-se a repassar informações empobrece o papel do colégio. Os sistemas educacionais, diz, precisam valorizar três princípios: o aprendizado experimental, a voz do estudante e o acolhimento dos erros. Por isso, o professor “deve se sentir confortável com a ideia de permitir que os alunos falhem como parte do processo de aprendizado”, afinal, pedir que eles sempre tenham a resposta certa não os deixa aprender.

Relatos do Curso de Férias Mentalidades Matemáticas

Professoras que participaram do Curso de Férias Mentalidades Matemáticas, em janeiro, ficaram impressionadas exatamente com essa valorização do erro como elemento pedagógico. Patrícia Schmidt, a Tata, contou que inicialmente os grupos pediam ajuda aos professores com os exercícios, estranhando a autonomia, a exposição e a liberdade de errar. “Os professores e os alunos experimentam um teste entre o ‘nada posso’ e o ‘tudo posso’”.

“A valorização do erro vai na contramão de que precisamos de uma resposta correta e rápida para atividades matemáticas”, disse a professora Regiane Picinin, que também participou do curso. “É o conceito que mais me encanta, pois os alunos percebem que é a construção de um novo caminho, e você é apenas um mediador e estamos em uma comunidade de aprendizagem”. 

No próprio curso, ela ouviu um comentário de uma aluna que resumiu a novidade: “Antes, eu achava que não podia errar; agora sei que posso”.


Mentalidades Matemáticas

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